sábado, 1 de agosto de 2009






POESIA ERÓTICA E SATÍRICA DE MANUEL MARIA DU BOCAGE



Lá quando em mim perder a humanidade

Mais um daqueles, que não fazem falta,

Verbi gratia – o teólogo, o peralta,

Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:



Não quero funeral comunidade,

Que engrole sub venites em voz alta;

Pingados gatarrões, gente da malta,

Eu também vos dispenso a caridade:



Mas quando ferrugenta enxada idosa

Sepulcro me cavar em ermo outeiro,

Lavre-me este epitáfio mão piedosa:



“Aqui dorme Bocage, o putanheiro:

passou vida folgada, e milagrosa;

comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.”



VI

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;

Puta tem sido muita gente boa;

Putíssimas fidalgas tem Lisboa,

Milhões de vezes putas têm reinado:



Dido foi puta, e puta dum soldado;

Cleópatra por puta alcança a c’roa;

Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,

O teu cono não passa por honrado:



Essa da Rússia imperatriz famosa,

Que ainda há pouco morreu (diz a Gazeta)

Entre mil porras expirou vaidosa:



Todas no mundo dão a sua greta:

Não fiqueis pois, oh Nise, duvidosa

Que isto de virgo é honra é tudo peta.



XIII

É pau, e rei de paus, não marmeleiro,

Bem que duas gamboas lhe lobrigo;

Dá leite, sem ser árvore de figo,

Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:



Verga, e não quebra, como o zambujeiro;

Oco, qual sabugueiro, tem o embigo;

Brando às vezes, qual vime, está consigo;

Outras vezes mais rijo que um pinheiro:



À roda da raiz produz carqueja:

Todo o resto do tronco é calvo e nu;

Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!



Para carvalho ser falta-lhe um u;

Adivinhem agora que pau seja,

E quem adivinhar meta-o no cu.





XIV

Bojudo fradalhão de larga venta,

Abismo imundo de tabaco esturro,

Doutor na asneira, na ciência burro,

Com barba hirsuta, que no peito assenta:



No púlpito um domingo se apresenta;

Prega nas grades espantoso murro;

E acalmado do povo o grã sussurro

O dique das asneiras arrebenta.



Quatro putas mofavam de seus brados,

Não querendo que gritasse contra as modas

Um pecador dos mais desaforados:



“Não (diz uma) tu, padre, não me engodas;

sempre me hás de lembrar por meus pecados

a noite, em que me deste nove fodas!”



XXIX

Cagando estava a dama mais formosa,

E nunca se viu cu de tanta alvura;

Mas ver cagar, contudo, a formosura,

Mete nojo à vontade mais gulosa!



Eis a massa expulsou fedentinosa

Com algum custo, porque estava dura:

Um carta d’amor de alimpadura

Serviu àquela parte mal cheirosa:



Ora mandem à moça mais bonita

Um escrito d’amor que lisonjeiro

Afetos move, corações incita;



Para o ir ver servir de reposteiro

À porta, onde o fedor e a trampa habita,

Do sombrio palácio do alcatreiro!



XXVII

Veio Mulei-Achmed marroquino

Com duros trigos entulhar Lisboa;

Pagava bem, não houve moça boa

Que não provasse o casso adamantino:



Passou a um seminário feminino,

Dos que mais bem providos se apregoa,

Onde a um frade bem fornida ilhoa

Dava esmola cada dia um pino:



Tinha o mouro fodido largamente,

E já basofiando com desdouro

Tratava a nação lusa d’impotente:



Entra o frade, e ao ouvi-lo, como um touro

Passou tudo a caralho novamente,

E o triunfo acabou no cu do mouro.













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“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”