sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O IDOSO


OLHO DE VIDRO





Poema do Barão de Pindaré Júnior*



Um braço mecânico, um coração de plástico,

um fêmur de alumínio, um fígado transplantado,

um pênis de borracha, uma dentadura acrílica,

uma namorada virtual, uma viagem simulada,

um sentimento de auto-ajuda, uma paixão de locadora,

um orgasmo por teleconferência. Why not?



Tipo assim: relacionamento programado,

com um beijo dos mais performáticos

— imaginem! fotografado com o celular.

Vai aparecer em tudo que é blog!



Vou fazer a tradução automática

e mandar por e-mail para todos os meus

desconhecidos.



Chácara Irecê, 12.05.2007



*pseudônimo de Antonio Miranda para canções de escárnio de maldizer.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010




O MILAGRE DA TRONCANITA
LADISLAU PIÇARRA.

(Relato de um caso invulgar em Serpa lembrado num ex-voto (pequeno quadro), atribuído como milagre a Nossa e Senhora de Guadalupe)

In Tradição II vol. Anno VI, Nº 2, Serpa, Fevereiro de 1904, Volume VI, pp. 25 a 26 (Relato de um milagre atribuído à Senhora de Guadalupe)

[Digitalizado por joraga (em finais de 2009), (para AA Cultural, Almada), procurando manter a grafia registada na época.]


O MILAGRE DA TRONCANITA




imgs - MRita Cortez - in Cancioneiro de Serpa, 1994, p. 342
(ver texto completo clicando na img do texto abaixo)

AINDA ha bem poucos annos, via-se mendigar pelas ruas de Serpa uma velhinha octogenaria, chamada Maria de Guadalupe Troncanita.

A velha Troncanita, como vulgarmente a designavam, tornára-se celebre, porque, em sua humilde pessoa, havia-se operado um grande milagre, tão extraordinario esse milagre que ficára profundamente gravado na memoria do povo serpense, e até figura numa das nossas selectas escolares.

A historia do maravilhoso acontecimento tive eu a dita d'ouvir da propria bôca de Troncanita, em novembro de 1897, contando ella nessa occasião 88 annos d'edade approximadamente. Essa historia contou-m'a a pobre velhinha muito commovida, com a voz tremula e entrecortada de lagrimas. Evidentemente, as suas palavras não occultavam o menor disfarce.

Passemos á interessante narração:

Teriam decorrido uns 39 annos, - disse-me a velha Troncanita, - falleceu lhe uma filha casada, que deixou na orfandade uma creancita do sexo masculino, tendo apenas 3 dias d'edade. A Troncanita, muito afflicta por causa do seu infeliz netinho, pois não encontrava quem o amamentasse, de mãos postas e joelhos no chão, durante tres semanas, pediu a Nossa Senhora de Guadalupe que "lhe deparasse uma ama" para aquelle innocentinho. E com fé tão ardente foram proferidos seus rogos, que um bello dia, estando Troncanita a lavar uns cueiros do neto, no tanque da horta dos "Pisões", onde ella era hortelôa, sentiu os peitos apoiados, e, ordenhando-os immediatamente, viu com grande pasmo que dambos esguichava em abundancia o leite providencial.


Quando este facto succedeu, já havia onze annos que Troncanita tinha dado á luz o ultimo filho, e, por conseguinte, desde ha muito que o seu leite seccára. Nestas condições, é fácil de calcular o assombro que um tal fenomeno produziria no espirito publico!
A noticia espalhôu-se rapidamente, e muita gente correu logo a casa de Troncanita para certificar-se de visu de tão singular occorrencia. Com effeito, a mystica e carinhosa avó lá estava alimentando o neto com o seu proprio leite.


A secreção lactea nos seios apparentemente atrofiados de Troncanita, era uma realidade que ninguem podia contestar; o que, porém, surprehendia toda a gente, eram as circumstancias anormaes em que se produzia aquella funcção organica. Comtudo, o facto ali estava patente aos olhos de todos, e tão impressivo que passou - como era naturalíssimo - á tradicão oral.
O mesmo acontecimento acha-se commemorado num pequeno e modestissimo quadro, existente na ermida da Guadalupe, cuja pintura representa, dum lado N. S. de Guadalupe com o menino Jesus, e, do outro, Maria Troncanita aleitando o neto, tendo ao pé de si um cão grande, que sempre a acompanhava. Entre estas duas pinturas, destaca-se uma pequena gravura representando uma mesa sobre a qual se vê um crucifixo.
Por baixo lê-se o seguinte distico:

- "Este quadro representa o portentoso milagre que fes N. S. de Guadalupe em obsequio de um menino que ficou sem mãi a poucos dias de ter nasido, é neto de Maria Troncanita, e foi o dia des de outubro de 1868, que vendo o menino sem sus-tento pediu de todo coração a N. S. a dita avô do menino mulher de 50 annos, que lhe deparasse quem lhe desse de mamar, e ao poco tempo foi tanta a abundancia de leite que teve a sua avô, que já ficava satifeito."



imgs - MRita Cortez - in Cancioneiro de Serpa, 1994, p. 343
(ver texto completo clicando na img do texto)

*

Convém notar que a lactaçâo de que vimos falando, não se limitou a um fenomeno fugaz, que apparecesse e desapparecesse como que por encanto; pelo contrario, manteve-se por um longo periodo de 14 mezes, que tantos foram os que durou a amamentação, e ao fim dos quaes morreu a creanca.
Por mais extraordinario e anómalo que pareça este facto, não podemos deixar de considerá-lo como authentico, visto que razão alguma se nos apresenta em contrario. Todavia, não é caso unico, outros identicos a sciencia registra. Apontam-se até alguns factos excepcionaes de mulheres que tiveram leite capaz de amamentar, embora essas mulheres nunca tivessem concebido. No proprio homem tem-se manifestado já a secreção lactea. (*) Mas, nem por isso, o caso de Troncanita deixa de ser muito interessante, revelando-se como um effeito da suggestão religiosa.
Psychologicamente, explica-se pela incontestavel influencia que as imagens e as ideias exercem sobre as funcções da vida vegetativa.
A ideia da amamentação que tão intensamente agitava Maria Troncanita, é que, indubitavelmente, actuou por intermedio dos nervos sobre os elementos histologicos das glandulas mammarias, fazendo-as segregar o almejado leite.


LADISLAU PIÇARRA

domingo, 10 de janeiro de 2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

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“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”