sexta-feira, 21 de agosto de 2009

LENDAS & ROMANCES


(Recolhidos da tradição oral do Alemtejo)

GERINALDO
- Gerinaldo, Gerinaldo,
Pagem d'el-rei mais querido,
Bem podias, Gerinaldo,
Passar a noite comigo.
- Se eu por ser vosso vassallo,
Senhora zombaes comigo...
- Eu não estou zombando, não,
Devéras é que t'o digo.
Vem entre as dez e as onze,
Acharás meu pae dormido -.
As dez eram dadas
Gerinaldo era venido.
- Quem bate á minha porta,
Quem bate, o que é isso ?
- É Gerinaldo, senhora,
Que vem no vosso serviço -.
Tanto conversaram ambos
Que pela manhã eram dormidos.
O rei, que já lhe tardava,
Foi ao quarto da infanta,
E acha-os ambos dormidos:
- Eu se mato Gerinaldo,
Criei-o de pequenino,
E se mato a infanta
Fica o meu reino perdido;
Aqui fica este punhal
P'ra sinal que sou sabido -.
Acordando Gerinaldo
Deu um ai mui dolorido:
- Acordae, bella infanta,
Acordae que estou perdido:
Entra nós ambos de dois
Um punhal está mettido.
- Levanta-te, Gerinaldo,
Vae-te entregar ao castigo,
Que o meu pae é muito bom
Há-de-te casar comigo -.
- Deus te salve, rei senhor.
- Deus te salve, Gerinaldo,
Que ainda agora és venido.
- Fui fazer uma caçada
E p'ra lá amanhecido.
- A caça que tu caçaste
Come á meza comigo.
- Aqui me tem vossa magestade,
Mande-me dar o castigo.
- O castigo que te dou
É que a recebas por mulher
E ella a ti por marido -.
Diziam os mais vassallos:
- Oh quem tivera a dita
Que Gerinaldo tem tido ! -.
Muitas vezes a ventura
Patrcina os atrevidos,
Quando os não derrubando,
Que a muitos tem sucedido.
(TRADIÇÃO 1902)
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”