quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O COMBOIO E O CAVALO


Paula Brito

[ Fábula de Lachambeaudie]


Rival da Locomotiva
Um Cavalo buscou ser,
Supondo que mais do que ela
Ele podia correr.

Num caminho em que tomavam
Ambos igual direção,
Disse ao Vapor o Cavalo,
Brioso escarvando o chão.

Por mais que queiras não podes
A palma ter da vitória,
Nem fazer com que teu nome
Como o meu brilhe na história.

Do fogo que te alimentas
As línguas vejo sair:
É nesse arsenal de guerra,
Que tens que te consumir.

– “ Deveras, tu te apresentas
Como meu competidor?
Pretendes lutar? — lutemos,
Disse ao Cavalo o Vapor.

Malgrado a desproporção
Entre um e outro querer,
Junto da Locomotiva
Põe-se o Cavalo a correr.

Um enche os ares de pó,
Outro de negra fumaça!
Não há triunfo entre os dois,
Pois um ao outro não passa.

Exausto, porém, de forças,
O Cavalo cai e morre;
Que faz a Locomotiva?
Com mais fogo ‘inda mais corre!

—–

Quando a proterva ignorância
Foge do século à luz
No abismo se precipita
A que seu erro a conduz.

Sempre que a velha rotina
Ao progresso der conselho,
Será bom que não te esqueça
De se mirar no espelho.
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“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”