sexta-feira, 7 de agosto de 2009

MISCELLANIA TRADICIONISTA


A CARNE DE GROU

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A classe camponesa da geração que nos precedeu, atribuia á carne de grou a mirifica virtude de conservar por tempo infinito a vida humana.
Era isto crença geral, devéras funda e arreigada, e da qual ainda hoje se notam restos persistentes na phrase popular e local -
parece que comeu carne de grou, com que se exprime a longevidade e resistencia vital de qualquer individuo.
A pessoa que alcançava a suprema ventura de saborear tão exquisito manjar, podia sim, - mercê dos effeitos enevitaveis d'uma edade já avançada, ou victima de alguma doença cruel e ruinosa -, chegar ao estado deploravel da mais completa incção e paralysia, á perda mesmo de todos os sentidos corporaes. Mas, ainda assim, viveria eternamente, embora em misero estado; porque a luz da existencia - acreditavam - essa, sómente abandonava o "engroado" quando almas caridosas e bemfasejas, condoidas de ver penar, se resolviam, depois de muito solicitadas, e não sem certo receio e terror, a deitar o pregão de morte. Consistia este no seguinte:
Depois de meia noite, em dia de sexta-feira, tres mulheres completamente embuçadas em amplos chailes negros, gritavam em voz alta, cada uma por sua vez, sucessivamente, ás esquinas das ruas principais:
(1ª mulher) - Fulano de tal (o nome do paciemte),
- Que comeu carne de grou,
(2ª mulher) - Quiz passar e não passou.
(3ª mulher) - Passe !
Afiançadamente que era remedio santo - rapido seguro e infallivel.
É impagavel a superstição popular !
Serpa 1902

* Grou = Ave pernalta que aparecia no Alentejo na época das sementeiras.
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”