quarta-feira, 12 de agosto de 2009

FESTA DA GUADALUPE


A FESTA DA GUADALUPE (Serpa)


A festa paschoal de Nossa Senhora da Guadalupe (d'Aguadelupes, como o povo diz) é uma das mais importantes festas religiosas que n'esta villa (Serpa) se verificam.
E nem podia deixar de o ser, desde que a alma popular, sempre ingenua e bôa, poz o enthusiasmo da sua crença, todo o ardor da sua fé sincera e pura na venerada imagem, que habita, lá no cimo da pequena montanha, uma dessas« alvas ermidinhas»que ao nosso grande poeta se antolham:
«Como ninhos virgens d'orações piedosas,
Miradoiros brancos de luar e rosas,
D'onde as almas simples entrevêem Deus!...»
Principiam no sabbado de alleluia os preparativos da festa. De tarde vão as irmãs elleitas cuidar do arranjo de Senhora, bem como de S. Luiz e S. Gens, primitivo orago da vetusta ermida.
No domingo - domingo de Paschoa, quasi sempre alegre e ruidoso - veem para a villa as trés imagens alludidas, que ficam expostas á adoração do publico, na parochial egreja de S. Salvador.
O percurso do prestito religioso, desde a ermida até á povoação, merece ser olhado attentamente. Porque é d'uma perspectiva maravilhosa, dúm effeito encantador, direi mesmo, d'uma poesia infinita, o lento caminhar da procissão - os devotos vestindo as opas brancas da irmandade - por entre o verde escuro dos trigaes ondeantes e sob as doces fulgurações do claro sol d' Abril.
Depostas as imagens na egreja do Salvador, conduz-se o jantar aos presos da cadeia.
Ainda não contei que a irmandade da Guadalupe é quasi exclusivamente composta de trabalhadores ruraes - pobres assalariados, que vivem em permanente "au jour le jour" desde o berço até á cova. Pois, não obstante os seus minguados recursos sabem os irmãos da Guadalupe comprehender e praticar a mais nobre e sublime das virtudes - a caridade - distribuindo um abundante jantar aos miseros encarcerados. Esta dadiva gentil de pobres a pobres constitue um meritório feito de abnegação e altruismo. Após o jantar aos presos ha o sermão de vesperas, largamente concorrido; e já noite cerrada, queimam-se no largo do Salvador apreciaveis fogos d'artificio, intervellados de peças musicaes.
Segunda-feira de manhã - e
emquanto no atrio da egreja se promove a venda dos ramos (Presentes de bôlos, fructas, etc., cuja venda é feita em almoeda) - é a celebração da missa solemne, por musica vocal e instrumental.
Durante a festa, o interior do templo, offerece um aspecto pittoresco, mercê da immensa variedade de typos e trajos do elemento camponez.
Á tarde a procissão magna, que de todas se distingue pelo avultado numero de fieis que nélla se incorporam. O magestoso cortejo, depois de percorrer o costumado itenerario pelas ruas da povoação, previamente atapetadas de espadana e junça, recolhe á egreja do Salvador; e em seguida, já lusco-fusco, são as imagens reconduzidas á sua campestre morada.
(in TRADIÇÃO - 1899)

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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”