quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ÁNÚNCIO


OFEREÇO SAUDADES

Ofereço a quem interessar possa
um baú com minhas saudades,
Repleto de momentos felizes,
da infância e da mocidade.
Todas em bom estado para uso imediato.
Favor apresentarem-se somente aqueles
que saibam com elas construir
um álbum de sonhos.

(Tahyane Rangel)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ANCESTRES - Poema do Barão de Pindaré


ANCESTRES



Poema do Barão de Pindaré Junior*





Esse velho que aparece

espelho

olhando com sarcasmo

e marasmo

não sou eu.

Deve ser

o meu pai desvalido

meu avô ido

meu bisavô desmilingüido

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

COMPADRES BEBENDO UM COPO


CONTOS DE MALTEZES



A ARANHA E O CATARRO
Velha aranha que na perfeição tecia a sua teia, lembrou-se de ir dar um passeio, até á feira, e foi. Depois de ter feito algumas amostras do seu trabalho em diferentes barracas, deu uma volta e encontrou o seu compadre «catarro». Quase se não conheceram de estragados que estavam. Cumprimentaram-se e, mestra aranha diz para o seu compadre: estás muito magro e mal encarado, tens estado doente ?
Nem tu calculas bôa amiga ! Tive a má ideia de me meter nas ventas e garganta de um ferreiro e por isso estou no estado que vez. Levo todo o tempo levando escaldões, á boca da forja e não há meio de o fazer espirrar, nem tossir, é pavorôso como ele resiste.
Mas tu comadre estás também muito atrapalhada !
Podéra, fiz a asneira de ir para a casa do Sr. Prior e arrebento trabalhando, para não conseguir nada. Levo noites inteiras a fazer a teia, pela manhã, a creada, com duas vassouradas desfaz o meu trabalho. É um martírio !
Continuaram nas suas queixas e lamúrias e, ao despedirem-se, alvitra o «Catarro»: oh, comadre e se nós trocássemos ? Tu vais para a loja do ferreiro eu para a casa do Sr. Prior.
Vá valeu ! Diz a aranha e, assim foi. Indicaram um ao outro as respectivas moradas e instalaram-se.
Passou um ano e voltou a haver a feira, onde ambas se voltaram a encontrar e, mais uma vez, quase se não conheciam, pela transformação que tinham. O Catarro muito gordo e forte e a Aranha muito bonita e elegante.
Rasgados cumprimentos e saber o passadio, foi logo á baila. Diz o Catarro: não sei como agradecer-lhe comadre o grande benefício que me fez. Há um ano que sou tratado com um carinho enternecedor. Meti-me nas ventas do Sr. prior e tomei-lhe a garganta, não imagina o que foi !... Tenho provado todos os xarópes e dôces. Quando quero mais, obrigo o prior a espirrar ou a tossir e logo sou servido de guloseimas. Se estou com mais apetite, é tosse e espirro ao mesmo tempo; isso então é uma delícia, vem tudo o que há de bom, até vinho do Porto.
E tu comadre Aranha parece que não te tens dado mal com a tróca ? !.
Estou-te muito grata, não calculas quanto o meu trabalho tem progredido. Tenho trez véus cobrindo o této da loja do ferreiro, todos de diferente tecido. Estou trabalhando e ouvindo os elogios do mestre, que diz a toda a gente: " ainda bem que esta aranha veio para a minha loja, em se quebrando uma telha e a água entrando, sei logo onde é, basta ver o sítio em que está rôta a teia. É uma grande economia no arranjo do telhado". Com vez compadre Catarro sou felicissima.
Ainda falaram mais algum tempo e despediram-se.
Foi tal a combinação que me parece que ainda hoje existe.
.(Contado pelo ferreiro Joaquim Carvoeira).
Transcrito por Leopoldo Parreira - Serpa 19/01/1926
Respeitadas, no blogue, as ortografia e pontuação do original.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

UM DIA A MAIORIA DE NÓS IRÁ SE SEPARAR


Um dia a maioria de nós irá se separar



Um dia a maioria de nós irá se separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: - "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! "Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrima abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Vinicius de Moraes

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

PENSAR EM TI DE ANTÓNIO GEDEÃO

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir
ANTÓNIO GEDEÃO

domingo, 8 de novembro de 2009

NATAL






Especial de Natal




Canto de Natal
(Manuel Bandeira)

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ-NOVENA DO LAVRADOR

MUSICA DO CAMPO

São as aves com seus trinos

que encantam a sementeira

suavisam a canseira

com seus variados hinos.

De manhã a cotovia

é o toque de alvorada,

a calhandra namorada

gorgeia durante o dia.

Depois à tarde ao sol-pôr

pintassilgo e verdelhão

entoam com mais ardor,

argumentam com paixão.

O rouxinol com amor

faz á noite a oração

Retorta-8-XI-1925

Leopoldo Parreira

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

POEMA DO BARÃO DE PINDARÉ JR.



D.JOÃO VI


Poema do Barão de Pindaré Jr.*


Não tomava banho e fedia a alho
e cebola e as ceroulas ferviam
nas tardes tórridas
de sua Quinta,
sexta, sábado e domingo.

Era o VI,
o sétimo dia
sem banho,
meu nobre João,
rei expatriado,
sentado em seu trono
de vários continentes.

Entrementes,
ardia e todo mundo sabia
de suas manhas
para fugir dos asseios

quando então
construíram em São Cristóvão,
por artimanhas de médico
e curandeiro,
uma Casa de Banhos
- aromáticos, profiláticos -
em que metia suas banhas.

Dom João VI inaugurou
nosso primeiro spa,
entre outros incontestes
pioneirismos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

POEMAS ERÓTICOS DE DRUMMOND DE ANDRADE


Bundamel Bundalis Bundacor Bundamor





Bundamel Bundalis Bundacor Bundamor

bundalei bundalor bundanil bundapão

bunda de mil versões, pluribunda unibunda

bunda em flor, bunda em al

bunda lunar e sol

bundarrabil

Bunda maga e plural, bunda além do irreal

arquibunda selada em pauta de hermetismo

opalescente bun

incandescente bun

meigo favo escondido em tufos tenebrosos

a que não chega o enxofre da lascívia

e onde

a global palidez de zonas hiperbóreas

concentra a música incessante

do girabundo cósmico.

Bundaril bundilim bunda mais do que bunda

bunda mutante/renovante

que ao número acrescenta uma nova harmonia.

Vai seguindo e cantando e envolvendo de espasmo

o arco de triunfo, a ponte de suspiros

a torre de suicídio, a morte do Arpoador

bunditálix, bundífoda

bundamor bundamor bundamor bundamor.

domingo, 4 de outubro de 2009

RECORDAÇÕES DE UM BURRO


Recordações de um burro

Aquele burro velhote
Recordava a pouca sorte
Que teve na mocidade,
Foi sempre um burro de carga
Numa vida tão amarga
Que não lhe deixou saudade.

Sempre de albarda em cima
Sem amizade nem estima
Um viver amargurado
Nunca teve o prazer
Nunca chegou a saber
O que era uma dia feriado.

Trabalhava sem parar
E nem podia zurrar,
Que lhe era proibido
Nem lá na sua cabana
Podia zurrar com gana
Com medo de ser ouvido.

Detestava o cabrestão
Que lhe tirava a visão
Para a esquerda e prá direita
Só podia ver em frente
E pra ele realmente
Era uma coisa mal feita.

Ao ver tanta maldade,
Ás vezes tinha vontade
De dar um coice ao patrão,
Mas, ao levantar a pata,
Levava com a arreata
E tinha de a pôr no chão.

O que mais lhe custava
Que mais o arreliava
E achava que era demais
Era ter de a qualquer hora
Andar tirando água à nora
Para os outros animais.

E ele o pobre burro,
Com medo de armar esturro
E ter um mau resultado,
Com prazer ou sem prazer
Lá ia tentando ser
Um burro bem comportado.

E quando era preciso
Também abanava o guiso
Disfarçava arrelias
E carregava a golpelha
Sacudia a orelha
Á espera de melhores dias.

E quando chegou o dia
Em que ele já podia
Zurrar à sua vontade
Aquele pobre coitado
Viu que já tinha passado
A sua melhor idade.

E assim o burro velhote
Que já está perto da morte
Ainda vai recordando
Uma vida pobre e tosca
Enquanto sacode a mosca
Que no lombo o vai picando.


De: Rosa Helena Moita
Natural de Beringel

ÁRVORES DO ALENTEJO-FLORBELA ESPANCA


Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

Escrito por Florbela Espanca

sábado, 3 de outubro de 2009

A BELA SAMARITANA




Dos amores do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu de amor.
Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia de amor palpitou.

Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-Lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.
E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou,
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.

Corou por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: - Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

HARMONIA


Guilherme de Almeida

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Harmonia Velha

O teu beijo resume
Todas as sensações dos meus sentidos
A cor, o gosto, o tato, a música, o perfume
Dos teus lábios acesos e estendidos
Fazem a escala ardente com que acordas o fauno encantador
Que, na lira sensual de cinco cordas,
Tange a canção do amor!

E o tato mais vibrante,
O sabor mais sutil, a cor mais louca,
O perfume mais doido, o som mais provocante
Moram na flor triunfal da tua boca!
Flor que se olha, e ouve, e toca, e prova, e aspira;
Flor de alma, que é também
Um acorde em minha lira,
Que é meu mal e é meu bem...

Se uma emoção estranha
o gosto de uma fruta, a luz de um poente -
chega a mim, não sei de onde, e bruscamente ganha
qualquer sentido meu, é a ti somente
que ouço, ou aspiro, ou provo, ou toco, ou vejo...
E acabo de pensar
Que qualquer emoção vem de teu beijo
Que anda disperso no ar...

POEMA DE BRUNA LOMBARDI


Bruna Lombardi

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Uma Mulher

Uma mulher caminha nua pelo quarto
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher que ao vê-la
nua no quarto pouco se sabe dela

a cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca

uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde: os sonhos, as axilas,
a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora

o homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ- NOVENA DO LAVRADOR


O Boi



Dando todo o seu valor

ao arado que conduz,

não vê ele o que produz,

escravo d'outro senhor.



Ouvindo a canção dolente,

entoada com carinho,

entristesse o pobrezinho,

quem o guia vae contente.



E foi a sua humildade,

sacrificou seu destino,

p'rá ingrata humanidade,



que não vê o que é divino !...

Ele de boa vontade,

Bafejou o "Deus Menino" !...


RETORTA 8-XI-1925

Leopoldo Parreira


A SENILIDADE DO BARÃO

Poema do Barão de Pindaré Jr.*


Por favor, não me venham com esse papo
furado de que idade é uma questão de espírito...

Pode ser... mas que é que eu faço
com as pelancas do braço
com as rugas
e com a flacidez das nádegas?

Recorro ao Pitanguy, escondo com camadas
de roupa ou de cosmético ou
me exibo como um maracujá de gaveta?

Ok, oitenta anos valem quatro vez mais
que vinte... Mas, aonde? No Clube da Terceira Idade?
No chá da Academia? No Instituto Histórico?

Ok, tem muito velho pra frente...
Mas, quem vem atrás? Eu, heim... ridículo!

Perfeito: tem velho jovial, avançado
na vanguarda... tem jovem antiquado.
E daí, pra que serve esse consolo?

Nem vale aquela piada: troco 80 por 4 de 20...
Que é que eu faço com elas? Rezo o terço no quarto?

Exato: existem exceções... Picasso era um tesão
em seus noventa aninhos.... Ou não... apesar do (re)nome.
Mas podes crer: o que abunda é velho
resmungão, ranzinza, rabugento. rrrrrrr.... Eu, rrrrr...rrrr...



* Barão de Pindaré Jr. é o pseudônimo de Antonio Miranda para poemetos politicamente incorretos...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

POVO QUE CANTA NÃO PODE MORRER

MUSICA DO CAMPO

São as aves com seus trinos

que encantam a sementeira

suavisam a canseira,

com seus variados hinos.

De manhã a cotovia,

é o toque de alvorada,

a calhandra namorada

gorgeia durante o dia.

Depois à tarde, ao sol-pôr,

pintassilgo e verdelhão

entoam com mais ardor.

Argumentam com paixão !

O rouxinol com amor

faz á noite a oração.

Monte da Retorta -8-XI-1925

Leopoldo Parreira

SE FORES UM DIA A SERPA

domingo, 20 de setembro de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ- NOVENA DO LAVRADOR


O TRIGO



Tem a pureza da Esperança

o seu verde, em pequenino

e mais tarde o seu destino,

é fiel n'essa lembrança.



Quando já louro perfeito,

logo é sacrificado.

Sendo por todos amado,

desejado o seu proveito.



Foi Deus, conhecendo o bem

que a todos êle fazia;

- dar-nos um exemplo vem -



E foi no seu grande dia !

Na ceia de Jerusalem,

fez d'êle a "Eucaristia".


Estoril - 7-XI-1925

Leopoldo Parreira

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PAIXÃO




Sinto

Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.


Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'

RETRATO DE MULHER TRISTE



Retrato de Mulher Triste

Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ-NOVENA DO LAVRADOR


O ARADO I



Onde aves tiveram ninho,

sae primeiro o seu futuro,

para trabalho tão puro;

de já velho e tosco azinho.


Depois a arte transforma

e vae juntar-lhe o metal

que produz o bem ou mal

conforme é a sua norma.


Logo que á terra voltou

como quem lhe pertencia,

seu corpo todo gastou.


Enquanto ele estremecia,

o bom lavrador cantou

e para ele sorria !...




O ARADO II



Para o velho lavrador

é o seu melhor amigo

e vem já de tempo antigo

vivem em paz e labor.


O arádo pede á terra

a riqueza do celeiro;

quem o guia prazenteiro

espera o que ela encerra.


No quando chega o bem

que a ambos é devido,

não despresando ninguem!


O pobre é socorrido,

a felicidade vem,

Deus fica reconhecido !


Estoril 30-X-1925

Leopoldo Parreira

terça-feira, 8 de setembro de 2009


Um dia a maioria de nós irá se separar.

Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos
que partilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
- "Quem são aquelas pessoas?"
Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!
"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!"
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrima abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo.....
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades....
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!


Vinicius de Moraes

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

TRADIÇÃO ORAL


CANTIGA





Quando Judas se formou,

Em palacio de grande altura,

Muita gente lá penou,

Outra foi á sepultura;

Casa cheia tem fartura,

Não sou só eu que o digo;

A gallinha corre ao trigo,

A fama é do pardal;

Não há doutores sem ter livros,

Nem altar sem castiçaes,

Não há portas sem postigos,

Nem burro sem atafaes,

Tambem lhe é dado estribos;

Nas vendas se vendem figos

P'ra contentar os rapazes;

No mar andam alcatrazes,

Também se pescam gaivotas;

Quem tem as pernas tortas

Logo lhe chamam canejo;

Curam-se as sezões com desejos

E as fr'idas com enguento,

Moem os moinhos com vento,

Quem faz a teia é a aranha;

Esta cantiga é tamanha

Não tem princípio nem fim;

Um raminho d'alecrim

É que se dá aos namorados;

As armas são p'rós soldados

E tambem p'rós caçadores;

Isto de quem tem amores

C'o pé ligeiro deve andar;

Fez-se a gaita p'ra tocar

E o pente para a cabeça;

Menina não me endoideça

Que se pode dar por feliz;

Tem um tamanho nariz

Que até lhe chega ao seio;

Já me vieram dizer

Que tem mais de palmo e meio;

Vae-te d'aqui nariz malvado

Criado tanto rigor,

Já m'o vieram gabar

P'ró quêjado d'um pastor.



in Revista Lusitana - 1888/1889

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ-NOVENA DO LAVRADOR


NOVENA DO LAVRADOR-2ª



O Lavrador




Se já velho, tem meiguice

e devoção verdadeira,

vê na terra companheira,

bem diz a sua velhice.



Sendo novo tem corágem,

nunca temendo sofrer;

amar, sorrir e colher,

é essa a sua miragem.



Tendo família é feliz,

e para ele produz

tudo quanto faz e diz,



cheio de vontade e luz.

Desejando o que Deus quiz,

só o dever o seduz.!


7-XI-1922

LEOPOLDO PARREIRA

domingo, 30 de agosto de 2009

SE FORES UM DIA A SERPA

POEMA POPULAR DE SERPA

Vou á ceifa p'ró verão,

Á vindima e azeitona

Que eu não sou «Senhora Dona»

Nem mulher de estimação.

Quem de mim faz mangação,

Quem de mim fizer chalaça,

Deus lhe dê memória e graça,

Luz e muito entendimento,

Que eu ganho p'ró meu sustento,

E sem comer ninguem passa.

(Da tradição oral)

sábado, 29 de agosto de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ - NOVENA DO LAVRADOR


NOVENA DO LAVRADOR - 1ª *

A TERRA

Ultima mãe carinhosa

que nos recebe em seu seio,

é a Terra de onde veio,

o trigo, o azeite e a rosa.

Quando o homem primitivo,

por Deus, d'ela foi tirado,

ficou sendo filho amado;

protege-o morto ou vivo.

Enquanto pode alimenta,

dá-lhe frutos, flores, prazer

e quando a alma se auzenta,

o corpo vae recolher

e para sempre acalenta;

parte d'ela torna a ser.

Retorta, 2-XI-1922

Leopoldo Parreira

* 1º de nove poemas dedicados à lavoura

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

POEMAS DE MEU AVÔ

A MINHA AVÒ

= A NOSSA SENHORA =
(Para a Bertha)*


Avé ! Mãe do Redentor !
Sois socorro dos aflitos,
espalhando paz, amôr,
protecção contra malditos.


Bendita é Vossa Graça,
sobre tudo que há no mundo,
quer na terra ou mar profundo;
vosso Amor todos abraça.


Dos homens sois protétora
e das mães consolação,
convertes a pecadora,


patrocinas a razão !
Sempre bôa defensôra
da Alma e do Coração !

LEOPOLDO PARREIRA
Estoril - 1925

* (Bertha = sua esposa e minha Avó materna)


A UMA DAS FILHAS


Quando eu te vi n'este mundo,
eras tão pequenina.
Hoje o meu amor profundo,
vê em ti minha sina.


LEOPOLDO PARREIRA
Estoril- 1925

POEMAS DE MEU AVÔ


À MINHA PRIMA


Tenho no cazal forno e lenha,
farinha peneirada em alguidar,
de amassar e tender é só tratar,
que o pão á fintura cedo venha.


Mas dá-me ainda que pensar,
que deitál'o no fôrno ainda tenha,
para isso meu geito nada engenha,
já depois de muito matutar.


Lembrei-me de pedir-vos minha Prima,
- para não pagar a uma saloia -
a cozinheira. Vae lá a cima,


depois de comer a calatroia,
fornêja, padêja e ultima.
Em troca mandar-vos-hei a poia.


Leopoldo Parreira
Retorta, 1925

*(Calatróia = Alentejo = Sopa de azeite e cebola)
**(Poia = Alentejo = Pão chato, que o dono de uma fornada dá, como retribuição ao dono do forno onde se coze o pão)

domingo, 23 de agosto de 2009

MANIFESTO ANTI-DANTAS

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa
e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
(Manifesto Anti-Dantas de Almada Negreiros)

UMAS HORAS ENTRE AMIGOS


sábado, 22 de agosto de 2009

POEMA INFANTIL


BIBLIOTECA

Carlos Urbim

Duas traças, irmãs
Biblió e Teca
Na hora do almoço
Com muito alvoroço
Ouvem a voz
Da mãe traça:
Biblió, Teca!
Venham almoçar
Há guisadinho
De papel
Para traçar!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O MOSTRENGO



.



O Mostrengo



Três vezes do leme as mãos ergueu,

Três vezes ao leme as repreendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:

‘Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um Povo que quer o mar que é teu;

E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!’




O Mostrengo

In A Mensagem

LENDAS & ROMANCES


(Recolhidos da tradição oral do Alemtejo)

GERINALDO
- Gerinaldo, Gerinaldo,
Pagem d'el-rei mais querido,
Bem podias, Gerinaldo,
Passar a noite comigo.
- Se eu por ser vosso vassallo,
Senhora zombaes comigo...
- Eu não estou zombando, não,
Devéras é que t'o digo.
Vem entre as dez e as onze,
Acharás meu pae dormido -.
As dez eram dadas
Gerinaldo era venido.
- Quem bate á minha porta,
Quem bate, o que é isso ?
- É Gerinaldo, senhora,
Que vem no vosso serviço -.
Tanto conversaram ambos
Que pela manhã eram dormidos.
O rei, que já lhe tardava,
Foi ao quarto da infanta,
E acha-os ambos dormidos:
- Eu se mato Gerinaldo,
Criei-o de pequenino,
E se mato a infanta
Fica o meu reino perdido;
Aqui fica este punhal
P'ra sinal que sou sabido -.
Acordando Gerinaldo
Deu um ai mui dolorido:
- Acordae, bella infanta,
Acordae que estou perdido:
Entra nós ambos de dois
Um punhal está mettido.
- Levanta-te, Gerinaldo,
Vae-te entregar ao castigo,
Que o meu pae é muito bom
Há-de-te casar comigo -.
- Deus te salve, rei senhor.
- Deus te salve, Gerinaldo,
Que ainda agora és venido.
- Fui fazer uma caçada
E p'ra lá amanhecido.
- A caça que tu caçaste
Come á meza comigo.
- Aqui me tem vossa magestade,
Mande-me dar o castigo.
- O castigo que te dou
É que a recebas por mulher
E ella a ti por marido -.
Diziam os mais vassallos:
- Oh quem tivera a dita
Que Gerinaldo tem tido ! -.
Muitas vezes a ventura
Patrcina os atrevidos,
Quando os não derrubando,
Que a muitos tem sucedido.
(TRADIÇÃO 1902)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O COMBOIO E O CAVALO


Paula Brito

[ Fábula de Lachambeaudie]


Rival da Locomotiva
Um Cavalo buscou ser,
Supondo que mais do que ela
Ele podia correr.

Num caminho em que tomavam
Ambos igual direção,
Disse ao Vapor o Cavalo,
Brioso escarvando o chão.

Por mais que queiras não podes
A palma ter da vitória,
Nem fazer com que teu nome
Como o meu brilhe na história.

Do fogo que te alimentas
As línguas vejo sair:
É nesse arsenal de guerra,
Que tens que te consumir.

– “ Deveras, tu te apresentas
Como meu competidor?
Pretendes lutar? — lutemos,
Disse ao Cavalo o Vapor.

Malgrado a desproporção
Entre um e outro querer,
Junto da Locomotiva
Põe-se o Cavalo a correr.

Um enche os ares de pó,
Outro de negra fumaça!
Não há triunfo entre os dois,
Pois um ao outro não passa.

Exausto, porém, de forças,
O Cavalo cai e morre;
Que faz a Locomotiva?
Com mais fogo ‘inda mais corre!

—–

Quando a proterva ignorância
Foge do século à luz
No abismo se precipita
A que seu erro a conduz.

Sempre que a velha rotina
Ao progresso der conselho,
Será bom que não te esqueça
De se mirar no espelho.

PROCURA-SE UM AMIGO

(Vinicius de Moraes)


Procura-se um amigo .
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.







VINICIUS DE MORAES

POEMAS DE ESCARNIO E MALDIZER

D. João VI
Poema do Barão de Pindaré Jr.*


Não tomava banho e fedia a alho
e cebola e as ceroulas ferviam
nas tardes tórridas
de sua Quinta,
sexta, sábado e domingo.

Era o VI,
o sétimo dia
sem banho,
meu nobre João,
rei expatriado,
sentado em seu trono
de vários continentes.

Entrementes,
ardia e todo mundo sabia
de suas manhas
para fugir dos asseios

quando então
construíram em São Cristóvão,
por artimanhas de médico
e curandeiro,
uma Casa de Banhos
- aromáticos, profiláticos -
em que metia suas banhas.

Dom João VI inaugurou
nosso primeiro spa,
entre outros incontestes
pioneirismos

terça-feira, 18 de agosto de 2009

OS POEMAS DE QUE EU GOSTO


Pablo Neruda

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Cuerpo de mujer...

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito
.

POEMAS D' OUTRAS ORIGENS


PRESENTE

A girafa deu
ao seu
marido
no dia
de Natal
um lenço
colorido
de seda natural.

Que alegria !
- disse o marido -
ponha a pata
nesta pata,
com um pescoço
tão comprido
você não podia
ter-me comprado
uma gravata.


MATILDE ROSA ARAÚJO

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

DESCOBRIMENTO DO BRASIL


E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.

Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar
.

(Trecho da carta de Pedro Vaz de Caminha a El Rei D. Manuel I)

PARA VENCER A VELHICE




Poema do Barão de Pindaré Júnior*

Para vencer a velhice, valho-me de qualquer recurso:
reza, ginástica, caminhada, meditação, livro de auto-ajuda,
sessão espírita, boa alimentação, até terreiro de macumba.

Vale tudo para viver muito mais e mais saudável; amor novo,
“simpatia”, alongamento para alongar e preservar a vida,
chazinho, fitinhas no pulso, implantes, e vitaminas.

Vale tudo mesmo: pré-disposição, pensamento positivo, ioga,
dança aeróbica, comida vegetariana, prótese, tratamento geriátrico.
Estou definitivamente (!) confiante nos avanços da medicina!


Agora só falta combinar com a Morte.





*PSEUDÓMINO DE ANTÓNIO MIRANDA (poeta brasileiro)- em Poemas de Escárneo e Maldizer
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”