sábado, 15 de agosto de 2009



DECIMAS

Vou á ceifa p'ró verão,
Á vindima e azeitona,
Que eu não sou «Senhora Dona»
Nem mulher de estimação.

Quem de mim faz mangação,
Quem de mim faz chalaça,
Deus lhe dê memória e graça,
Luz e muito entendimento,
Que eu ganho para o meu sustento,
E sem comer ninguem passa.

O pedir ninguem extranha,
Porque vem da antiguidade,
Pedir por necessidade,
Ou por devoção ou manha...
Se um homem se desacanha
A pedir a um e outro,
Sempre alcança muito ou pouco;
As esmolas não dão calmas...
Quantos pedem para as almas,
P'ra sustento do seu corpo !

É muito fácil cahir
O ceu todo aos bocadinhos,
Choverem mós de moinhos
E um mosquito as engulir;
Uma só mosca parir
Quatrocentas mil barracas,
Os mortos virem dar sécca
Aos que ainda hão de nascer...
Então poderão dizer
«Ser Jesus Christo que peca»

Virgem da Consolação,
De S. Paulo padroeira,
Hoje em dia Serpa inteira
Com ella tem devoção;
Com muita satisfação
No seu dia é festejada,
Da nobreza acompanhada
Com gloria e com prazer;
Tem sido sempre e há-de ser
De Deus muito abençoada.

Oh! Virgem Santa Maria!
Oh! Virgem Imaculada!
Virgem que foste sagrada,
Mais pura qu luz do dia!
Bem haja a Ave-Maria
Que alumia o vosso ventre!
Mas eu, como penitente,
Confessei o meu pecado;
Já Deus me tem perdoado
Na gloria eternamente.


(Da tradição oral da villa de Serpa)

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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”