terça-feira, 26 de agosto de 2014



Quadro Simples

Doira o sol o cume dos montes.
O campo com seus matizes, oferece à nossa vista um espectáculo deslumbrante.
A nossos pés os lirios roxos, as modestas margaridas, as estevas, o rosmaninho e tantas outras flores dispostas na coroa das grinaldas com que a natureza se enfeita e que ao serem beijadas pelos raios de sol, abrem os seus cálices para olharem o céu sem nuvens, o límpido céu da primavera.
Mais além, pasta um rebanho de mansas ovelhas, enquanto o seu jovem moiral assobia sentida canção popular.
Aos pés do mancebo serpenteia lentamente a ribeira onde uma jovem camponesa acompanha com a sua linda voz o hino pastoril, esquecendo-se, por momentos, de bater a alva roupa na dura pedra.
Na margem, celebérrimo melro cantador, faz o seu palco num ramo de medronheiro que, preguiçosamente se debruça sobre a água, exibindo os seus mais maviosos trinados acompanhado pelo arrulhar das recém chegadas rolas.
Um bando de perdizes caminha para uma encosta onde não bate o vento e se pode receber um pouco de sol matutino. O perdigão, caminha à frente seguido de todo o bando. Pára de quando em quando, salta para uma pedra, olha para todos os lados e canta o seu tchó-tchó-tchó, sonoro e estridente. É o toque a reunir para o pequeno almoço.
Do outro lado, ocultas pelas altas estevas e a ramagem das azinheiras, através das quais se côa o doirado raio solar que, mansamente, vai beijar a água da ribeira, pipilam dezenas de passarinhos como que querendo que os seus suaves gorgeios se casem harmonicamente com os trilos do melro, como os harpejos de uma viola se casam com os trinados do bandolim..
Um pouco ao lado, numa pequena horta que embeleza aquele formoso torrão de encantos, cava alegre um homem apesar de ter apenas a cobrir-lhe o tronco uma camisa de grosseiro pano e para a primeira refeição um pedaço de saboroso pão amassado com o suor do seu rosto, acompanhado de um pedaço de toicinho ou, apenas de algumas boletas.
Como tudo isto era belo !
Como me encantava este concerto admirável  de coisas simples.
lfpl/2013.
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”