sexta-feira, 31 de julho de 2009

LENDAS & ROMANCES

Oh ! que guerras são armadas
Nas costas do Maranhão !
Oh filha ! estou muito velho,
Não as posso vencer não.
- Dae-me armas e cavallos, 
Que eu irei por capitão.
Tendes as mãos muito finas, 
Filha, conhecer-vos-hão.
- As minhas mãos, ó meu pae,
Todo o remédio terão,
Mandarei fazer 'mas luvas,
D'ellas nunca sahirão;
Dae-me armas e cavallos,
Que eu irei por capitão.
Tendes os peitos mui grandes, 
Filha conhecer-vos-hão.
- Os meus peitos, ó meu pae, 
Todo o remedio terão,
Mandarei fazer 'ma farda
Della nunca sahirão;
Dae-me armas e cavallos,
Eu irei por capitão.
Tendes cabellos mui grandes,
Filha conhecer-vos-hão.
- Os meus cabellos meu pae,
Todo o remedio terão,
Dae-me cá uma tesoira,
Ve-los-hão cahir no chão;
Dae-me armas e cavallos
Que eu irei por capitão.
- Dou-te armas e cavallos,
E dou-te a minha benção.
- Ó minha mãe, minha mãe,
Os olhos de D. Martinho
A mim me matarão,
Todos os feitos são de homem,
Os olhos de mulher são.
- Pois se o quer's exp'rimentar,
Convida-o para jantar,
Que se elle mulher for,
Nas baixas se ha de assentar.
- Que bellos assentos baixos
Para ás damas offertar !
- Que bellos assentos altos
P'ra D. Martinho se assentar !
- Ó minha mãe, minha mãe,
Os olhos de D. Martinho
A mim me matarão,
Todos os feitos são de homem, 
Os olhos de mulher são.
- Pois se o quer's expr'imentar,
Leva-o a enfeitar
Que se elle mulher fôr
Ás fitas se ha de agarrar.
-Ó que bellas fitas verdes
Para as damas adornar !
Ó que bellas espadinhas
P'ra D. Martinho brigar !
'O minha mãe, minha mãe,
Os olhos de D. Martinho
A mim me matarão,
Todos os feitos são de homem
Os olhos de mulher são.
- Pois se o quer's exp'rimentar, 
Convida-o para nadar
Que se elle mulher fôr
Elle se ha de acobardar.
- Nade primeiro,
Pr'a me poder ensinar;
 Quem quizer casar comigo
Vá ao palaci Real,
Sou filha de D. Martinho, 
Neta de D. Guiomar.
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CONTOS POPULARES ALENTEJANOS
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O lobo e as três fortunas
Era duma vez um lobo que, ao levantar-se um dia, pela manhã, esperguiçou-se e deu três espirros, dizendo: «Oh! que três fortunas que eu hoje vou ter!...»
Poz-se a caminho, e passado um oiteiro, viu dois carneiros guerreando. Quando elle diz lá consigo: «Cá está a primeira fortuna. E esta não é má.» Chegou ao pé dos carneiros, sem elles sentirem e disse-lhes:
- «Que diabo de desordem é essa ? então aqui não há rei nem roque ? pois esperem que eu já vos castigo...»
Os carneiros,  vendo que já não podiam fugir-lhe, responderam:
- « Ó senhor lobo, nós bem sabemos que você nos mata e nos come; mas primeiro, tire-nos lá aqui uma duvida, para ver qual de nós tem razão.»
- «Então que duvida é essa ?» perguntou o lobo.
- «Ora,» - diz um dos carneiros - «é que eu digo que a pastagem aqui para este lado, é do meu dono, e para aquelle lado, é que pertence ao dono do meu camarada; e elle diz que não. E para ficarmos sabendo quem tem razão, pedimos-lhe que veja se este marco está certo com aquelle que está ali adiante.»
O lobo, não desconfiando da malícia do carneiro, aproximou-se do marco para decidir a questão. Poz-se a olhar muito attento para os marcos, a ver se estavam no endireito um do outro, quando uma forte pancada o fez cair por terra, sem sentidos. Tinham sido os carneiros, que, apanhando o lobo distraido, correram ao mesmo tempo para elle e deram-lhe uma valente marrocada.
O desgraça do lobo,  quando tornou a si, lá se levantou com muito custo e marchou dizendo: - «se as outras fortunas forem como esta, acabam de matar-me. E de mais a mais, havendo já dois dias sem comer nada senão mato!»
Ia assim o lobo a lamentar a sua sorte, quando, erguendo a cabeça, avistou, no meio dum valle, uma égua, já muito velha e magra, e uma filha que andavam pastando. Mal as avistou, disse logo: «Estas é que não me escapam; porque a mãe é velha e está magra, e a filha é ainda muito nova para me poder fazer mal. Mas, em todo o caso, não perco nada, matando a mãe, ainda assim, apesar de velha, ella não de dê alguma ventosa (parelha de coices).» O lobo foi-se chegando com toda a cautella para ao pé da égua e disse-lhe:
- «Ó aniga! eu tenho fome... e então tem paciencia, mas vaes morrer.»
Respondeu-lhe a égua:
- « Olha la! eu sou velha tenho a carne dura, e alem disso, estou magra. Mas se tu quizesses, fazias-me um favor, e eu, em paga delle, dava-te a minha filha.»
- «Então que favor é esse ? » perguntou o lobo.
- «Ora, é tirares-me um cravinho passado que tenho numa pata e que não me deixa andar.»
- «Vá lá... isso pouco custa.»
A egua assim que o apanhou a geito, deu-lhe uma parelha de coices tão grande que lhe escangalhou os queixos, e marchou com a filha para casa do dono.
O lobo, ainda com dores, metteu-se pello vale abaixo, e encontrando uma porca com bacorinhos disse-lhe:
- «Ó porca ! tem paciencia, mas eu ando com muita fome, e vou comer os teus filhos.»
- «Ó senhor lobo !» - respondeu a porca - «eu não me importo que me coma os filhos, mas primeiro, vamos baptizá-los.»
- «Então como é que isso se faz?» perguntou o lobo.
- «Olhe!» - diz-lhe a porca - «você sobe para cima do bocal d'aquelle poço e eu fico em baixo para lh'os ir dando dum em um, e você depois vai mergulhando-os e comendo-os.»
- «Bem, pois então vá lá.»
O lobo subiu para cima do bocal e a porca, assim que lá o agarrou,, deu-lhe uma trombada que o fez cair para dentro do poço, e fugiu com os filhos.
Elle como poude lá conseguiu sair do poço e continuou a sua jornada.
Mais adiante, encontrando uma vacca com uma corda atada a uma perna, disse consigo: «Esta agora é que não m'escapa de maneira nenhuma porque eu agarro-me á corda, enleio-a, a vacca cai e eu como-a.» Effectivamente o lobo agarrou-se á corda, mas a vacca assim que o sentiu, desatou a correr, arrastando-o pelo chão. Quando a corda se partiu, o lobo levantou-se em mísero estado, e disse lastimoso:
- «Ora quem te manda, lobo, ser marcador de extremas, alveitar de bestas e baptisador de porcos? E por fim, se a corda se não parte ou o nó se não desata - ir morrer a casa do dono da vacca!»
(E a esta hora lá estarão comendo pão com melão e arroz de cação)
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”