sexta-feira, 24 de julho de 2009

ESTÓRIAS DA MINHA TERRA

ILL.mºs e R.mºs Senhores = A V.S.ªs representa com o maior respeito Genoveva Roza, mulher de Francisco Pereira, assistente no sitio de Alcolena, Bairro de Belem, na Rua da Silva Nº 15: que ella Suplicante já por três vezes tem exposto a V.S.ªs o lamentavel estado, a que a tem reduzido huã moléstia contrafeita que ha tres annos tem padecido; e referindo em suas justas Representações a origem, progressos, e terríveis effeitos de tão preniciozo mal, como são, além da saude, socego e tranquillidade de sua familia, a triste penuria da sau caza pelos gastos excessivos em medicamentos inuteis; tem a suplicante declarado a V.Sªs. que Maria Salomé, assistente no mesmo sitio, na Rua Nova das Terras, Nº 51, hé a auctora e principal cooperadora da sobredita molestia da suplicante a quem por meios diabolicos tem sempre perseguido em todo e qualquer lugar que seja adequado aos seus malvados intentos, não exceptuando os mesmos templos, e outros santos lugares de devoção e respeito. Porem, apezar de tão necessarias e justas Representações, que até mesmo para utilidade publica a suplicante tem dirigido a V.S.ªs, apezar de fiel e verdadeira exposição dos males, que a suplicante padece, fomentados por aquella abominavel mulher e suas companheiras, havendo bastantes exemplos em outras pessoas, que forão victimas de suas feiticerias; apezar finalmente da escrupoloza obrigação, em que a sua Egreja constitue a todo o catholico de delatar ao tribunal competente individuos tão preversos, como annualmente se costuma publicar: comtudo as Representações e os rogos da suplicante não tem sido attendidos com incrivel prejuizo da saude da suplicante, com grave damno da recta justiça e pasmosa ostentação da suplicada.
        Portanto a suplicante renova pela ultima ves os seos justos rogos, implorando a V.S.ªs a graça de mandar apprehender a suplicada e suas sequazes, examinando primeiro a verdade da suplicante; pois não só he impróprio de seu genio e caracter malquistar indevidamente pessoas innocentes; mas até por conselhos auctorizados de seus Directores espirituaes e Exorcistas tem sido a suplicante obrigada e proceder deste unico e saudavel modo. E, se nem ainda for deferida a supplica que fas, como pede a justiça da sua causa; protesta dirigir os seus rogos sinceros ao rectissimo Tribunal da divina justiça, pelo total abandono e desprezo, que soffre tão importante objecto, por huã Auctoridade tão respeitável. - ERMce.
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        Inquisição de Lisboa, nº 14620.
É uma denuncia que não está datada, parece, todavia, ser do princípio do sec. XIX.
(in A TRADIÇÃO - revista publicada em Serpa no fim do sec XIX e princípio do sec. XX)
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”