FREI ANTÓNIO
Levantou-se frei Antonio
Uma manhã de madrugada,
Bate à porta de morena,
Morenita mal casada.
- Abre-mea porta morena,,
Morena da minh' alma.
- Não posso frei António,
Frei António do coração,
Que tenho meu filho ao collo,
Meu marido pela mão.
- O que é isso, ó mulher minha,
A quem dás as tuas fallas ?
- Foi o filho da padeira
Que perguntou se amassava,
Se amassava pão de leite,
Não lhe deitasse água,
E se era de trigo
Lhe deitasse pouca água.
- Levanta-te, bella mulher,
Vae tratar da tua casa.
- Levanta-te, ó homem meu,
Vae tratar d' uma caçada,
Manda-me de lá uma lebre,
P'rá noite t'a ter guizada. -
O marido que sahia,
Ella bem se enfeitava,
Ao convento foi passar,
Por frei Antonio perguntava.
Frei Antonio, assim que a viu,
Em vez de correr saltava,
Dava-lhe bellos bolos,
Talhadas de marmelada,
E pela mão a levou
Á cella onde dormitava.
Ella que vinha p'ra casa,
O marido que encontrava.
- Onde foste, mulher minha,
Que vens tão enfeitada ?
- Venho de dar uns parabens,
Pertencentes a nossa casa,
A nossa prima Francisca
P'lo filho que Deus lhe dava.
- Fizeste bem, mulher minha,
Fizeste tu, como honrada,
Agora o que tu mereces
É uma saia nova. -
A primeira que lhe deu
Foi com a tranca da porta,
A segunda que lhe deu
Foi co'a tumba já á porta.
(in A TRADICÇÃO DE 1902 - Revista mensal pub.em Serpa)