segunda-feira, 20 de julho de 2009

LENDAS & ROMANCES

FREI ANTÓNIO


Levantou-se frei Antonio

Uma manhã de madrugada,

Bate à porta de morena,

Morenita mal casada.

- Abre-mea porta morena,,

Morena da minh' alma.

- Não posso frei António,

Frei António do coração,

Que tenho meu filho ao collo,

Meu marido pela mão.

- O que é isso, ó mulher minha,

A quem dás as tuas fallas ?

- Foi o filho da padeira

Que perguntou se amassava,

Se amassava pão de leite,

Não lhe deitasse água,

E se era de trigo

Lhe deitasse pouca água.

- Levanta-te, bella mulher,

Vae tratar da tua casa.

- Levanta-te, ó homem meu,

Vae tratar d' uma caçada,

Manda-me de lá uma lebre,

P'rá noite t'a ter guizada. -

O marido que sahia,

Ella bem se enfeitava,

Ao convento foi passar,

Por frei Antonio perguntava.

Frei Antonio, assim que a viu,

Em vez de correr saltava,

Dava-lhe bellos bolos,

Talhadas de marmelada,

E pela mão a levou

Á cella onde dormitava.

Ella que vinha p'ra casa,

O marido que encontrava.

- Onde foste, mulher minha,

Que vens tão enfeitada ?

- Venho de dar uns parabens,

Pertencentes a nossa casa,

A nossa prima Francisca

P'lo filho que Deus lhe dava.

- Fizeste bem, mulher minha,

Fizeste tu, como honrada,

Agora o que tu mereces

É uma saia nova. -

A primeira que lhe deu

Foi com a tranca da porta,

A segunda que lhe deu

Foi co'a tumba já á porta.


(in A TRADICÇÃO DE 1902 - Revista mensal pub.em Serpa)



Powered By Blogger

Seguidores

Acerca de mim

A minha foto
SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”