Rainha Santa Isabel,
Mulher d'el-rei D.Diniz,
Muitas esmolas que dava
A ninguem as entregava,
P'las suas santas mãos as dava.
Um dia lhe aconteceu,
Indo c'o seu regaço occupado,
Com el-rei se ha encontrado,
E elle lhe ha perguntado:
- O que levaes, Senhora,
No vosso regaço ?
- Levo cravos e rosas,
P'ra vosso desenfado.
- Cravos em jneiro
São maravilha achados. -
A santa se humildou,
Seu regaço lhe amostrou,
Uma capella de rosas
Outra de cravos achou.
Um dia lhe aconteceu
Ir ao seu palacio pedir
Um pobresinho leproso
Com cinco chagas abertas;
Dizei-me, ó meu irmão,
Se vosso mal não tem cura ?
- O meu mal não tem cura,
Nem será remediado;
Eu vos peço, Senhora,
Que por vossas santas mãos
Meu corpo seja lavado -
A santa que isto ouviu,
Ó seu quarto o levou,
N'uma bacia de prata
Seu santo corpo lavou,
Com 'ma toalha bem fina
Seu santo corpo limpou,
Na cama onde onde el-rei dormia
Seu santo corpo deitou.
Um cavalleiro, que isto viu,
Foi mui triste e fatigado;
- Saiba Vossa Magestade,
Saiba Vossa Senhoria,
A Rainha minha Senhora
Pela clemencia que ousou,
Um pobresinho leproso
Na vossa cama o deitou -
El-Rei, que isto ouviu
Foi mui triste e fatigado:
- Basta ó minha senhora,
Pela clemencia que ousaes !
Um pobresinho leproso
Na nossa cama deitaes -
A santa, que isto ouviu,
Os seus olhos pôz no ceu,
Os seus joelhos na terra.
El-rei as corrediças correu,
Um senhor crucificado achou:
- Agora vos digo, senhora,
Minha c'roa podeis dar,
O meu thesouro empenhar,
Para dar aos peregrinos,
Que eu contente hei de ficar.
Em Saragoça nascida,
Em Eztremoz fallecida,
Nas freiras de Santa Clara
Enterrada.
in A TRADIÇÃO - Serpa