sexta-feira, 4 de setembro de 2009

TRADIÇÃO ORAL


CANTIGA





Quando Judas se formou,

Em palacio de grande altura,

Muita gente lá penou,

Outra foi á sepultura;

Casa cheia tem fartura,

Não sou só eu que o digo;

A gallinha corre ao trigo,

A fama é do pardal;

Não há doutores sem ter livros,

Nem altar sem castiçaes,

Não há portas sem postigos,

Nem burro sem atafaes,

Tambem lhe é dado estribos;

Nas vendas se vendem figos

P'ra contentar os rapazes;

No mar andam alcatrazes,

Também se pescam gaivotas;

Quem tem as pernas tortas

Logo lhe chamam canejo;

Curam-se as sezões com desejos

E as fr'idas com enguento,

Moem os moinhos com vento,

Quem faz a teia é a aranha;

Esta cantiga é tamanha

Não tem princípio nem fim;

Um raminho d'alecrim

É que se dá aos namorados;

As armas são p'rós soldados

E tambem p'rós caçadores;

Isto de quem tem amores

C'o pé ligeiro deve andar;

Fez-se a gaita p'ra tocar

E o pente para a cabeça;

Menina não me endoideça

Que se pode dar por feliz;

Tem um tamanho nariz

Que até lhe chega ao seio;

Já me vieram dizer

Que tem mais de palmo e meio;

Vae-te d'aqui nariz malvado

Criado tanto rigor,

Já m'o vieram gabar

P'ró quêjado d'um pastor.



in Revista Lusitana - 1888/1889
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SINES, ALENTEJO - SERPA, Portugal
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”